sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mesas e Cóleras

Estamos cravados em olhares rasos, sorrisos paralelos e dialetos engraçados.
Você não consegue me encontrar em lugar algum, e isso te irrita.
Você me vê, mas não me enxerga. Normal, eu diria. Mas continua a te deixar furioso, suponho.
As pessoas precisam expressar sua insatisfação diante as incógnitas que as aborrecem, eu até entendo. Imagino eu, o quão desgostoso é, não receber as famosas simpatias do dia-a-dia, àquele papinho seboso,  que segundo vocês, é uma ferramenta de “aproximação”, pra mim, é mais uma daquelas partes que você poderia pular, passar pra frente, ignorar. Mas ainda assim, consideram vitais, na fantástica arte da convivência!
Não confundam a fraudulência da simpatia, com educação. Responder, agradecer, blá blá, eu até suporto. Mas àquela piada seguida daquelas risadinhas, ou àqueles comentários sem manejo ou importância, ditas só pra quebrarem o silencio, por favor, dessas eu fujo. Eu não entendo direito qual o problema de vocês com o silêncio, sinceramente. É tão mais prazeroso não ouvir nada, do que ouvir qualquer porcaria.
Não me venham com sofismas, sobre o que ser ou como ser,  pois se vai faze-lo, tenha argumentos consistentes capazes de sustentar o que realmente pensa. E sinceramente, conceitos do que seja ideal, pra mim são extremamente dispensáveis, ora que vivemos uma vida de acasos relativos.
O que incomoda não é a tentativa falha de me induzir a algo, é a  leitura mal feita sobre mim, sobre o mundo e as coisas. Que me leva a refletir e temer a minha possível inadaptação com a maioria das coisas e pessoas. E veja só,  não é questão de certo ou errado, a questão é a óptica singular das coisas. Eu consigo te ver, e você não consegue me ver. Logo, você se precipita, obviamente, sempre se precipitam, e a dinâmica toda flui, para que eu seja colocada num papel que não me cabe, para que na sua cabeça caiba alguma noção do que eu seja, ou do que você quer que eu seja, até mesmo para que possa acrescentar o que eu não deveria ser a partir de suas nomeações. O que é engraçado, vez, que minha percepção é mais aguçada, logo, eu pareço a esquisita e você o normal. E cabe a mim, cuspir algumas coisas vez ou outra, e na maioria das vezes, só terminar meu refrigerante enquanto eu reviro os olhos, expressando a minha profunda cólera por ter que te ouvir. O que só reafirma, você é normal e eu sou esquisita.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Manhãs Enlatadas.

Tá se revirando na cama, cheia de gases. Não dormiu essa menina. Tava trepando com o travesseiro, e depois quis navegar na depressãozinha diária, assistindo um filme blasé semelhante ao vazio que dá existência a vida medíocre dela. Coitada! Que mane coitada? Ela tem força escondida que renderia belos golpes, como swing em marmanjos cheio de segurança e verdade. Mas por deus, por que ela faria isso?
Levanta, vai até o banheiro, queria evitar olhar no espelho, mas a tentação é forte demais. POXA VIDA! É sempre interessante, saber que a imagem ta cada dia pior, surpreendente ou deprimente, ou sei lá, na verdade tanto faz.
Imaginou pão, café quente, uvas e desenho na tv. Mas tinha apenas uma cama cheirando a xoxota, papel e palavras.  
Ta mendigando textos, ta mendigando vida, ta mendigando qualquer coisa que a tire dessa merda. Não é muito comovente, é entediante. Mas o que se pode fazer ? Essa garota ta sempre cansada, entende?
“O século XXI é uma grande piada”, pensou enquanto coçava a bunda. Mas convenhamos, tecnologias, tecnologias, tecnologias, ah pombas! Isso não me rende nada. Economizamos tempo, e ele se esvai mais depressa, estão fazendo tudo errado, tudinho.
Ciência, Mcdonald, matemática, facebook, psicologias. Digo, estamos na era da acessibilidade. Eu twittei agora a pouco, sobre falácias dos ouvidos e famílias pobres dessa geração, a qual eu também to instalada, céus! Mas pensem,  usufruímos dos resquícios de refúgios que já não nos abrigam mais, pois estão cheios, cheios de um grande nada, que te consome. Você sempre acaba enlatado, acredite.
A menina, eu,  estamos toda vida na terceira do plural, eu acho, ela acha. Sabe?
Essa lavagem escrita, é como comer picadinho no almoço, um pouco de tudo, não sabe-se bem o que ta comendo, o que quer comer, o que ta falando, o que quer dizer. Ta sem sem nexo e faltando vírgulas, um pouco de pimenta, e tudo acaba bem. No final você ta satisfeito com o que tem. E por mais que eu tente fugir das rimas, elas me surgem, é um inferno, você caga fazendo rima, é esquisito.
Não esquenta, o ciclo de hoje vai ser o de sempre, mentir-culpa-comida-chorar-culpa. É assim, tem jeito, mas não quero.
To naquele êxtase de que poderia fazer qualquer coisa agora, mas um banho me falta. Maldita mania! Vocês deviam experimentar ao menos uma vez na vida, a arte dos picos, é assustador, mas você se sente poderoso mesmo atolado no fracasso.
Olha, a garota não dormiu e não vai, e poderia tirar uma espada do guarda-roupa e proclamar liberdade “ESTA ABOLIDA A ROTINA QUE MATA”, e vocês seriam felizes e talvez eu também.
Tudo faz sentido, quando sua vizinha, aquela que mora na mansão de oitocentos mil reais, com piscina, dois filhos e um cachorro poodle, com um belo marido e um jardim ainda mais bonito, esta aos berros “MEUS DEUS! MEUS DEUS! O QUE EU FIZ PRA MERECER?”. Minha senhora, se tu com essa casa, esse carro e teu café quente não sabe, eu é que não vou saber. E as coisas findam assim, seja rico, seja pobre, os problemas sempre vêm. E pra que eu não seja eternamente enlatada com a sardinha pessimista, fica aqui a mensagem mais positiva de uma moribunda: não importa, tu tens sempre a chance, a escolha e a mudança. Faça!