sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ancorada no vão de suas memórias

Virou-se na cama, finalmente havia gozado. Uma cor estranha dessa vez. Não acreditava ao que se submetia para preencher o vazio. Ria, chorava, oscilava. Imensuráveis sentimentos e sensações invadindo-lhe a calcinha molhada, o coração deserto, e finalmente, ao cérebro torto.
Pensamentos automáticos que a mandavam direto para o abismo. Tentou não cair, se firmando em uma prosa da madrugada, que possuía notas de amor (as quais a incomodavam), e sobre outras coisas que não entendia bem. Procurava se afirmar num plano sem fundo, e os planos iam falhando a medida em que se inclinava para o vão das próprias memórias. Sobrecarregou de si mesma. 
Estava irritada, por saber que não sabia quem era, e o que sabia não era aceito, nem por ela, nem pelos os outros. Mas era o máximo de solidez que conseguia estabelecer para se manter viva. E era por isso que, coberta de sujeira, não dava pra se lavar, não por agora, não sabia ser outra coisa. 
Sufocou-se novamente. Então deu uma sacudida no cabelo, ajeitou o travesseiro por debaixo da barriga. Botou Humberto no rádio, desconcertante se via presente nas canções de solidão. Chorou. O verbo se fazia carne, só histórias ouvidas, nunca contadas! Levantou a cabeça para cima e perguntou "Por que meu Deus?", e se lembrou, que estava tão sozinha, que até deus, ela o matou. 
Embriagada pelo sono, tentou refletir sobre a tirania de sua mente perturbada, e o máximo que conseguiu fazer, foi dormir.
Espera-se um final, um norteio, uma continuação. Mas corações histéricos, não conseguem se desancorar do vão, das coisas, do vazio! Então encerra-se, sabendo que acordará no outro dia, para  viver, sobreviver e dormir outra vez.